sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Reflexões sobre as eleições

Caros leitores, o período de eleições em Bruzundanga me deixa deprimida, não pense que tenho saudades do tempo do Império, a verdade é que a democracia aqui ainda é como uma cocote, todos lhes fazem juras de amor eterno, mas na verdade todos só querem se aproveitar e tirar vantagens.

Não tive animo para escrever, assistindo tantas barbaridades e sandices nesta campanha. Sair às ruas e ver a população pobre plantada na via pública segurando os cartazes de propaganda dos candidatos é um espetáculo deprimente, é o explorado garantindo a permanência do explorador.

Outro dia, passando por Irajá, vi um cartaz de um jovem político, filho e neto de caciques locais, que tinha como slogan a seguinte frase: “a política está no sangue”. Fiquei com essa frase na cabeça e não é que o menino foi eleito! Depois disso, verifiquei a listas dos candidatos eleitos, pude constatar que aqui em Bruzundanga, os cargos eletivos são hereditários, ao que tudo indica “estão no sangue”. Piciane já colocou os dois filhos, Bolsonaro, Garotinho e César Maia idem. Fico perguntando com meus botões, quem são os eleitores destes filhotes, com a exceção da cria do César Maia, os demais são ilustres desconhecidos fora do período de eleições, mas passado o pleito surgem como deputados estaduais e federais. Espero que algum dia façam uma C.P.I., séria naturalmente, para esclarecer essa misteriosa hereditariedade...

sábado, 24 de julho de 2010

Tupiniquins Deslumbrados ao Extremo

Nunca pensei que a histeria coletiva de Bruzundanga, em copiar tudo que é estrangeiro chegasse até à própria carne, o deslumbramento tupiniquim atingiu os extremos.

A nova mulher brasileira, não sei mais dizer com que se parece! Pra todo canto que olho só vejo cópias piratas da Barbie, aqui em Bruzundanga tem mais louras do que a Escandinávia. Cabelo nórdico e peitos norte-americanos, da antiga mulher, daquela que foi musa do Benito de Paula, só restou a bunda.

A Schincariol enterrou oficialmente a mulher nacional padrão, quando contratou a socialite yankee Paris Hilton para protagonizar a campanha publicitária de lançamento da cerveja Devassa Bem Loura. As nossas louras piratas ficaram passadas se vingaram enchendo o Conar de denuncias e a campanha foi suspensa, essa estória de foi proibida por apelo sexual excessivo, é conversa pra boi dormir, pois a maioria das propagandas de cerveja é apelo sexual puro. E na terra do funk, da mulher Melancia e do Big Brother, proibir uma a campanha por apelo sexual, vamos combinar é surreal.

Outra novidade surpreendente é o desaparecimento dos nomes nacionais substituídos por nomes estrangeiros que estamos pirateando, como por exemplo:
• Diana – Daiana ou Dayana
• Michel – Maicon, Maikon
• Johann – Iorran

Bruzundanga vai de mal a pior, está se tornando uma nação obesa, bem feito! Quem mandou substituir o arroz e feijão pelo fast food? Não acreditei quando vi no cinema o tamanho dos recipientes da pipoca e do refrigerante, é um balde! Até mesmo os piores hábitos dos norte-americanos os tupiniquins daqui acham chique, nem do frango frito – KFC – essa terra escapou. Hipertensão, problemas com colesterol, agora, são doenças infanto-juvenis, a água oxigenada responsável pelas madeixas louras destruiu o neurônio das mães?

Já notaram que as bruzundaguenses não envelhecem mais como antigamente, as plásticas faciais esticadas foram abandonadas, e a moda agora é a plástica 3D? Confesso que nunca pensei, que um dos personagens do antigo programa Balão Mágico se tornaria um ícone de beleza feminina. Não fique velha, transforme-se no Fofão! Essa parece ser a palavra de ordem para a mulher que começa a envelhecer. Inicialmente ao ver essas novas faces achei que as redes de televisão, livres da censura e do preconceito impostos pela ditadura, tinham incluído transformistas em seus elencos. Antigamente somente os travestis tinham as maças do rosto proeminentes pelo silicone injetado, agora honestamente não sei dizer se estou diante de uma mulher ou de um travesti?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

SAUDADES DO BONDE



Apesar de todo o meu patriotismo, há momentos que penso que Bruzundanga não tem jeito. As coisas por aqui, têm uma capacidade de deterioração incrível, será a maldição dos trópicos? Sinceramente, não sei. Nem mesmo o progresso escapa dessa sina, bem que eu disse ao Raimundo Teixeira Neves, que botar a expressão “Ordem e Progresso” na nossa bandeira, era ser positivista demais... Pois é, deu no que deu! A desordem e o esculacho nacional a todo o momento desacreditam essa bandeira. É por isso que a maioria dos brasileiros só se lembra dela de quatro em quatro ano na Copa, ou então nos períodos de ditadura quando são obrigados a reverenciá-la. De progresso e de ordem Bruzundanga sofre de carência crônica.

Retornando da minha hibernação como toda cobra que se preza, encontro a Guanabara, ou melhor, o Rio de Janeiro, rebaixado de posto, no meu tempo era capital, em polvorosa por causa da Copa de 2014. Estou chocada com o que encontrei, deixei a cidade novinha em folha, recém modernizada pelo Pereira Passos e, a única coisa que encontrei neste estado foi o Teatro Municipal! A cidade está horrorosa, imunda, calçadas quebradas, praças desativadas e segundo me contaram até as epidemias voltaram. Que copa será realizada aqui? Cancelem tudo, não deixe os estrangeiros ver essa desgraça, minha cara está no chão de tanta vergonha. Depois ficam ofendidos com as declarações do Stallone, bem feito! A maioria dos bruzundangas são tupiniquins deslumbrados, não podem ver um gringo que se curvam em adoração.

As nossas (des) autoridades deveriam ter vergonha de viver numa cidade rodeada de favela, favela sim! Às favas com o tal de “politicamente correto”, é favela mesmo e é o símbolo máximo da desigualdade social crônica desse país. Há décadas, entra e sai governo e nenhum foi capaz de transformar as favelas em bairros, incluí-la à cidade. Isto sim seria INCLUSÃO SOCIAL, e não distribuir computadores ultrapassados para as crianças de meia dúzia de escolas e uma fachada de habitações populares (PAC) para esconder a favela, só ações para fazer bonito nas fotos da campanha eleitoral.

Infelizmente a miséria em Bruzundanga é atração turística e investimento político, existe lugar melhor pra se comprar voto? A política dos governadores acabou, mas os currais eleitorais se urbanizaram, isso é ou não é uma evidência da deterioração do progresso. O tempo passa, as coisas mudam e continua tudo na mesma, ou melhor, como dizia o Conde Frabrízio Salina imortalizado por Lampeduza no romance o Leopardo (Il Gattopardo), durante os conflitos da unificação italiana:” as coisas tem que mudar para continuar na mesma “.

Desculpe-me se mudo de assunto, mas é a revolta e a indignação de ver tanta esculhambação. Voltando para meu giro pela cidade, depois de visitar o Municipal, resolvi ir até à Confeitaria Colombo, para tomar um chá. Depois do meu chá, resolvi experimentar o Metrô, afinal depois do alarde da inauguração da estação de Ipanema com a presença do presidente da república, do governador e do prefeito, e considerando que estamos a vésperas das eleições, achei que ia encontrar algo soberbo, confortável e rápido. Qual nada me senti em meio ao estouro de uma boiada, se não fosse a minha bengala, teria sido pisoteada pela multidão. Nem preciso dizer que não entrei no vagão, fui carregada pela turba. Espremida ali, fiquei tranqüila, pois afinal de conta o desconforto seria breve, ledo engano leitores, a composição a cada estação ficava parada, aguardando não sei o quê. Depois quando cheguei em casa, fiquei refletindo e acho que descobri porque da demora, acho que é pra gente ter tempo de ler todos os reclames (propagandas), tem pra tudo quanto é canto: no teto, no chão, nas paredes internas e externas dos vagões, até mesmo dentro do túnel, em alguns trechos é possível vê-las em movimento, cruz-credo, pensei até que era assombração, mas um rapaz que estava ao meu lado exorcizou as aparições me explicando que era mais uma propaganda. Gente, que saudades do bonde, pessoas bem vestidas, falando baixo, comodamente sentadas aproveitando a brisa e apreciando a paisagem. Mais uma evidência que em Bruzundanga o progresso e a modernidade são corrompidas e acabam virando retrocesso e arcaísmo.